[Dica da Malu] Em algum lugar nas estrelas

Autora: Clare Vanderpool
Editora: DarkSide Books
Páginas: 288

  Para quem acha que a DarkSide Books só publica livros de terror e suspense, acho que não existe maior prova do contrário do que o livro Em algum lugar das estrelas, da autora Clare Vanderpool. Poucas vezes na minha vida, li uma história tão linda, sensível e cativante, repleta de aventuras e lições sobre amizade, perda, lealdade, perdão e família.
            Ambientado na década de 1940, logo depois da II Guerra Mundial, o livro vai contar a história de Jack Baker, um menino de treze anos que, após a morte da sua mãe, é enviado pelo pai para um internato. De uma hora para outra, ele vê sua vida se transformar, sem ter tempo de assimilar a perda da mãe e nem contar com o apoio do pai, que retorna para o serviço na marinha logo após deixa-lo na escola.
        No novo colégio, Jack se sente solitário e perdido, até conhecer Early Auden, um menino bastante peculiar e diferente de todos os outros que ele já havia conhecido. Extremamente curioso e inteligente, Early é também bastante solitário, tendo muita dificuldade para se relacionar com as pessoas e lidar com os próprios sentimentos. Ele acabou criando a sua própria maneira de ver o mundo e enfrentar as coisas que considera difíceis, sendo obsessivo até nas músicas que irá ouvir: Louis Armstrong às segundas, Sinatra às quartas, Glenn Miller às sextas, Mozart aos domingos, e Billie Holiday se estiver chovendo.
         Os dois meninos acabam sendo unidos pela solidão e pelo sentimento de perda que ambos conheciam. No entanto, Jack é o mais relutante dos dois em começar uma amizade. Para ele, Early é um menino esquisito e difícil de compreender, o que o leva a evitar uma aproximação. No entanto, quando chegam as férias de Natal e os dois são os únicos que permanecem na escola, Jack acaba resolvendo acompanhar Early em uma aventura pelas florestas do Maine em busca do lendário Urso Apalache.

“Era disso que eu precisava. Localização. [...] Mas então entendi: para ter marcos, era preciso ter terra. E o ar salgado que enchia meus pulmões me fazia lembrar que muito do que cercava naquele lugar era água. Água em constante movimento, sempre mudando.”

            A primeira coisa que destaco sobre esse livro é a importância de encarar essa história com um olhar de criança. O livro é narrado pelo próprio Jack e é difícil distinguir o que é real e o que é imaginação infantil. Por isso, é melhor embarcar na aventura que está sendo contada do mesmo modo que Jack acompanha Early, e tentar ver os acontecimentos do mesmo modo que os dois meninos enxergam.
            Confesso que tive um certo receio de que fosse achar essa história monótona por ser narrada pelo ponto de vista de uma criança. No entanto, esse acabou sendo o grande mérito do livro, pois trouxe mais sensibilidade e inocência para a narrativa, além de criar um tom mais lúdico e cativante.
            Com relação aos personagens, dizer que fiquei encantada com Jack e Early é muito pouco. Ao mesmo tempo que dá vontade de abraçá-los por serem muito fofos, também aprendemos muito com eles e nos surpreendemos com a maturidade que ambos demonstram, apesar de conservarem a inocência e a fantasia próprias da idade. Jack carrega uma tristeza tão grande, que em alguns momentos parece quase um adulto. No entanto, a pureza dos seus sentimentos e a falta que sente de alguém para guiá-lo lembram o leitor que trata-se de uma criança. Já Early, é um menino muito peculiar, o que pode cansar um pouco, devido dificuldade de entendê-lo. No entanto, assim que começamos a conhecê-lo melhor, é impossível não ser cativado por sua inteligência, seu raciocínio rápido e sua forma de entender o mundo e lidar com os sentimentos.

“A colagem no quadro de cortiça parecia com o que eu imaginava que devia ser a cabeça de Early: uma confusão de informações, texturas, cores e caos que só ele conseguia entender. Saber mais sobre Early era quase tão desafiador quanto navegar em águas misteriosas e inexploradas.”

            Ainda não conhecia o trabalho de Clare Vanderpool, mas fiquei fascinada pela escrita da autora. Apesar de fluir em um ritmo um pouco mais lento, a leitura não é tediosa em nenhum momento. Além disso, a autora conseguiu criar uma história leve e simples, mas que, ao mesmo tempo é rica e profunda, com lições muito bonitas e personagens que demonstram uma sensibilidade rara.
            Por fim, não poderia deixar de mencionar aqui a beleza desta edição. Todos os livros da DarkSide são feitos com o maior zelo e capricho, mas neste a editora se superou. A capa, a folha de guarda, as ilustrações dentro livro e, até mesmo, o marcador... tudo foi claramente planejado com o maior cuidado e o resultado é maravilhoso. É daqueles livros que a gente não cansa de olhar para eles, de tão lindo que é.


          Assim, “Em algum lugar nas estrelas” é um dos livros mais encantadores e apaixonantes que li este ano. Me interessei por ele devido à beleza da sua capa, mas foi, sem dúvida, a sensibilidade da história e dos personagens apresentados que me arrebatou. Recomendo muito esta leitura para quem está disposto a deixar de lado o pragmatismo dos adultos para embarcar na imaginação infantil e conseguir olhar para o mundo e para as estrelas com outros olhos.

P.S: Que tal ouvir um pouco de Mozart hoje? Afinal, domingo é dia de Mozart. A não ser que esteja chovendo, porque, em dias de chuva, é sempre Billie Holliday.

            

4 comentários:

  1. Não conhecia o livro mas adorei a tua descrição e acrescentei à lista de livros a ler no futuro :)

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    1. Oi Isabel, que bom que gostou. Vale muito a pena, viu? Espero que você goste :)

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  2. Minha nossa, que capa maravilhosa! Vi esse livro quando fui a Saraiva, fiquei com vontade com comprar mas acabei levando outro. Depois dessa resenha, ele vai ser a próxima aquisição rs
    Visita meu blog: www.umdejulho.com

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    1. Oi Mylena, essa capa é mesmo muito linda né? E a edição dentro do livro também ficou maravilhosa. A DarkSide arrasou!!
      Espero que você goste do livro :)
      Vou visitar seu blog sim. Bjoos!

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Apaixonada por literatura desde pequena, nunca consegui ficar muito tempo sem um livro na mão. Assim, o Dicas de Malu é o espaço onde compartilho um pouco desse meu amor pelo mundo literário.




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